terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Macua, um povo que guarda segredos


Os Macuas são a tribo predominante na região onde trabalhamos. Constituem a mais numerosa etnia de Moçambique, mas também a menos conhecida, a mais dividida e, provavelmente, a mais dificil de avaliar no plano da resistência. Rondam os 4 milhões de indivíduos e ocupam um território de cerca de 200 mil quilómetros quadrados, no Norte do país.

Formam um povo único, embora com diversos grupos e subgrupos, que têm em comum a língua banta e os modelos de organização da vida social e cultural.

  São na sua maioria, islamisados (principalmente os Macuas costeiros), ficaram conhecidos por entregar aos Suahilis e aos Portugueses, seus inimigos como escravos.

 Esses agricultores sem estados mostraram ser inimigos difíceis para os que queriam forçá-los. O termo “Macua” tinha frequentemente um certo significado de desprezo. Com efeito na linguagem corrente, M’ Makhuwa significa aquele que é selvagem, aquele que come ratos, aquele que anda nú. M’ Makhwa significa também aquele que vem do interior do país (do mato).

Mas, anterior ao período de colonização, havia uma outra conotação para nome Macua, “aquele que guarda secredos”, pois eles ocultavam aos outros tudo o que se passava no seu lar ou na sua comunidade. A própria criança era ensinada a manter segredo (OKUA) perante as perguntas dos curiosos. A ideia generalizou-se e, ao longo do tempo, os outros povos começaram a tratar este povo por MAKUA, o povo dos segredos.

 A sua “submissão” aos colonos portugueses foi mais aparente que real. Eles defendiam-se, a seu modo, numa passividade que era mais uma resistência silênciosa do que rendição. E foram várias as formas de resistência. A primeira foi a fuga. De 1950 a 1970, cerca de 60 por cento dos macuas mudaram de território, para fugirem ao trabalho obrigatório, em péssimas condições, imposto pelo Governo português.

A sabotagem foi outra. Assim, eles faziam as tarefas de que eram incumbidos sem se esforçarem, queimavam as sementes para prejudicarem a produção, faltavam ao trabalho sempre que podiam... Por isso, para os colonos portugueses, eles tinham fama de preguiçosos.

Mas os macuas dispunham de uma arma ainda mais subtil contra o domínio estrangeiro: o sarcasmo. Com o tempo, a sua linguagem foi-se enriquecendo com provérbios e cânticos novos, difíceis de entender pelos portugueses. Era assim que zombavam dos dominadores e dos chefes locais que se lhes vendiam. Porque «o branco é como o fogo. Quem lhe toca queima-se».


A própria mulher que mantivera relações com os brancos, e que por isso se julgava superior às outras, também não era poupada. Porque «Deus criou o branco e também o negro. Mas o “café com leite” quem o fez foi o português». Assim desprezavam os mestiços, que ainda hoje são minoria em Moçambique. Negros casam-se com negros, indianos com indianos, chineses com chineses, brancos com brancos.



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