segunda-feira, 27 de junho de 2011

O papel da Mulher na cultura Macua

Os estudiosos garantem que os macuas chegaram à região onde hoje vivem vindos na onda das inúmeras migrações dos povos bantos, por volta do século XI. Mas os macuas não são desse parecer. Eles acreditam que foi Deus quem os criou no monte Namuli, nas margens do rio Zambeze. É o que os pais ensinam aos filhos, empregando numerosas versões para contar como tudo aconteceu. Eis uma delas, conhecida como o mito das origens:

Um dia, nas entranhas profundas do monte Namuli, Deus fez germinar homens a partir das raízes de um embondeiro – a chamada «árvore dos mil anos», imensa.
Reunidos em pequenos grupos e seguidos por animais da floresta, os primeiros macuas conseguiram sair desse reino de trevas e chegar à luz. Uma vez à superfície, cada grupo recebeu um nome, capaz de unir os seus membros e torná-los irmãos uns dos outros. Foi assim que se formaram os clãs que ocupam hoje o território macua.
Um dia apareceu a morte e, com ela, a necessidade do casamento, para gerar filhos que ocupassem o lugar dos mortos de cada grupo. Mas como poderia ser, se todos eram irmãos?
Os anciãos reuniram-se então e tomaram uma decisão: o homem, quando casa, passa a viver com a família da esposa, mas não tem nenhuma autoridade sobre os seus filhos. Só sobre os filhos da sua irmã.

O mito das origens ajuda a explicar a estrutura social macua, que é matrilinear. A criança, quando nasce, passa a integrar o clã materno. Quem exerce a autoridade sobre os filhos é o tio materno mais velho: ele tem direito a intrometer-se na vida da irmã casada e até a censurar a conduta do cunhado, se vir que algo corre mal. O papel do pai é totalmente nulo.

A mulher ocupa o centro da vida familiar: educa os filhos, cuida da casa e prepara a comida. A sua principal tarefa prende-se com a maternidade e para ela é preparada desde pequena. Poder dar à luz traz-lhe prestígio e, assim, o nascimento de uma menina é festejado com alegres ilulu – gritinhos típicos das mulheres macuas. O mesmo não acontece com os rapazes e a mãe costuma mesmo perguntar: «Valeu a pena sofrer tanto?»

Já na vida social a situação da mulher é bem diferente: é marginalizada, ocupando uma posição de inferioridade em relação ao homem. Também executa os trabalhos mais duros, como transportar carregos pesados e moer a mandioca ou o milho. Não tem igualmente voz nas decisões importantes para a comunidade e tem de aceitar calada a poligamia.

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